O novo filme de Guillermo del Toro, “Frankenstein” (2025), reimagina o clássico de Mary Shelley, deslocando o foco do terror físico para a tragédia emocional e o trauma do abandono. Estrelado por Oscar Isaac (Victor Frankenstein) e Jacob Elordi (a Criatura), o filme é um convite sombrio para analisarmos as falhas da função paterna e o que acontece quando a criação é rejeitada pelo seu criador.
Para a Psicanálise, a Criatura de Frankenstein não é apenas um monstro; ela é o filho rejeitado por excelência.
Victor Frankenstein, o cientista brilhante e egocêntrico, não cria a vida por amor, mas sim por ambição narcísica. Ele quer ser Deus, o “Moderno Prometeu”. No entanto, ao se deparar com a realidade de sua criação, ele a rejeita com horror, negando-lhe o reconhecimento e o vínculo essenciais para a sua constituição psíquica.
O ser humano só se constitui através do olhar do criador, a mãe, o pai). A Criatura, que clama por afeto e sentido, é privada dessa condição básica:
- Rejeição do Corpo: O horror de Victor ao ver sua criação materializa que ele só consegue amar a si mesmo ou aquilo que é uma extensão idealizada de si.
- A Dor do Nome: A Criatura não tem nome. A ausência de nome, ou seja, de um lugar simbólico da linguagem e da família, é o maior ato de abandono. É ser jogado na existência sem um referencial simbólico que o estruture.
A Criatura, em sua busca desesperada por amor e reconhecimento, só encontra a repulsa. A dor do abandono se transforma, inevitavelmente, em ódio e destrutividade . Se o criador não lhe oferece o amor para viver, resta-lhe apenas a vingança como uma forma trágica e destrutiva de existir.
O filme de Del Toro nos confronta com a verdade de que a monstruosidade não está na origem, mas na relação. A Criatura é, na verdade, o sintoma vivo da falha de Victor Frankenstein em assumir sua função paterna.