Um olhar para o espelho duplo para uma imersão n’um Folie à deux

Delírio a Dois nos conduz por uma jornada sombria e complexa sobre a construção de uma possível identidade e o papel do Outro na constituição do sujeito. A linha tênue entre realidade e fantasia provoca o espectador a questionar o que é real e delirante no personagem, dentro da loucura de Coringa, que, nesse filme, se une a Lee Quinzel, interpretada por Lady Gaga.

A loucura em Coringa: Delírio a Dois, vai além de um diagnóstico; é uma metáfora para o sofrimento diante de (des)encontros com o outro e a própria loucura, que se manifesta como uma resposta ao sofrimento, forma de manifestação da impossibilidade de encontrar um lugar no mundo.

Folie à deux é o conceito usado por Lacan para apresentar o caso das irmãs Papin, que assassinaram (por mutilação) a patroa e a filha do seu empregador em Le Mans, França, em 1933. O caso das irmãs é considerado um marco na criminologia e psicanálise, enquanto Lacan, à época, se apresentava como psiquiatra e não como psicanalista.

É evidente o que sustenta a relação simbiótica, patológica e tóxica entre Arthur e Harley: a busca desesperada por um terceiro que complete, preencha um vazio e os reconheça como sujeitos. Na esperança de se livrarem de uma angústia, busca que acaba levando ambos a um caminho de destruição mútua.

A mensagem que fica é sobre a nocividade de supor que o outro pode causar uma possível completude. Harley, com sua singularidade caótica e impulsiva, atua como esse “a mais” para Arthur, intensificando seu delírio e alimentando sua fantasia de onipotência na figura do Coringa. Eles encarnam uma faceta patológica do amor, fundindo-se com a destruição em uma tentativa (frustrada) de alcançar a completude, ou seja, sob o signo do impossível.