“Hey You” nos convida a uma reflexão sobre a miséria humana e o desejo em sermos vistos e escutados.
Quando Lacan apresenta o conceito de grande Outro (outro com“O” maiusculo), referindo-se àquele que supostamente nos vê e nos reconhece, a letra da música, juntamente com sua melodia, revela a angústia de um sujeito dividido, buscando uma resposta, assim como experienciamos em nossas experiências analíticas.
“Hey you” é repetido constantemente, da mesma forma que apelamos por reconhecimento. A imagem do “muro” que é citada na letra e a escala do riff da música Another Brick in the Wall que surge invadindo e “quebrando” a música pode ser interpretada como a manifestação dos nossos mecanismos e recursos que nos afastam desse Outro e de nós mesmos.
Até que ponto estamos dispostos a romper com nossos muros internos para estabelecermos uma conexão genuína com o outro? A análise pode ser um caminho para a compreensão e a criação de formas diferentes de lidarmos com o sofrimento.
O final de “Hey You” reflete sobre essa dinâmica do sujeito com o Outro que permanece. A frase “Together we stand, divided we fall” (“Juntos levantamos¹, divididos nós caímos”) reflete a demanda por conexão e a dificuldade em ter coragem para alcançá-la.
No entanto, esse Outro também representa limite, uma barreira, o que separa objeto do desejo (afinal, o nome do álbum é “The Wall”).
A ideia de um “estarmos juntos” perfeito, é uma ilusão, uma tentativa de negar a incompletude que nos encontramos. Somos o resultado de desejos contraditórios e de buscas por uma identidade unificada, tarefa inalcançável.
“Hey you” destaca o papel da linguagem na construção da nossa subjetividade. Ao nomear o Outro, tenta-se estabelecer uma relação e ao mesmo tempo, uma barreira. A ideia de um “nós” é uma fantasia, que tenta amenizar a nossa angústia. Esse Outro, sempre inalcançável, é constituído pela falta. Nossa relação com o Outro pode ser vista pela repetição de padrões de relacionamentos passados em novas relações.
A canção nos mostra que a busca por conexão é uma busca constante (ou errante), marcada por contradições, incongruências e pela impossibilidade de uma união que possa viabilizar uma completude.
¹ou somos mais fortes ou venceremos.