O filme “Conclave” (2023), dirigido por Edward Berger, é um thriller político-religioso que acompanha o processo de eleição de um novo Papa após a morte do anterior. A narrativa mergulha nas intrigas, alianças e conflitos entre os cardeais durante o conclave, explorando temas como poder, moralidade, fé e corrupção.
A palavra “papa” (referente ao líder da Igreja Católica) tem uma etimologia interessante, vinda do grego antigo e do latim eclesiástico. Os primeiros cristãos adotaram o termo grego, que passou ao latim como “papa”, inicialmente usado para qualquer bispo ou líder espiritual. Com o tempo, no Ocidente, o título ficou restrito ao Bispo de Roma (o Papa), especialmente a partir do século V, quando o papado consolidou sua autoridade suprema na Igreja. A palavra “papa” carrega uma história de reverência religiosa e paternalismo, refletindo a visão do líder da Igreja como um “pai espiritual”.
O conclave é um espaço onde o poder é disputado, mas também onde o desejo de reconhecimento e autoridade se manifesta. Os cardeais podem estar buscando não apenas o papado, mas o reconhecimento de Deus, da Igreja ou da História. A figura do Papa ocupa um lugar no registro simbólico (a estrutura de poder da Igreja). Quem assume esse papel precisa encarnar uma função que vai além de si mesmo.
O poder papal pode ser visto como um objeto a (objeto causa de desejo), algo que promete completude, mas que sempre escapa. Os cardeais podem estar em uma busca fantasmática pelo poder absoluto, mas, como o gozo é sempre impossível, quanto mais se aproximam, mais ele se desloca.
A autoridade do Papa pode ser associada ao Nome-do-Pai, a função que ordena a lei. Se essa função é corrompida, surge uma crise no sistema.
Muitos personagens podem enfrentar conflitos internos entre sua fé e suas ambições, o que remete ao supereu, a voz internalizada que exige sacrifício e produz culpa.
Conclave poderia explorar como o desejo pelo poder religioso se relaciona com as estruturas do simbólico (a Igreja como ordem), do imaginário (as ilusões dos cardeais) e do real (as rupturas e traições). O filme, assim, pode ser visto como uma alegoria sobre a frustração inerente ao desejo humano e a ilusão de completude que o poder promete, mas nunca cumpre. O que chama atenção é o quanto o filme lembra metaforicamente algumas operações imaginárias que circulam dentro das escolas de psicanálise no Brasil.