Por que a Busca por Prazer Imediato faz a manutenção dos nossos sofrimentos e nos deixa mais vazios do que antes?

A sociedade atual se encontra obcecada por prazeres instantâneos: o “rolar” em redes sociais sem parar em vídeos de curta duração e que agora podem ser acelerados, comprar por impulso, buscar gratificação a qual custo. Esse ciclo, que alguns chamam e é conhecido como “cultura da dopamina”, promete felicidade instantânea, mas muitas vezes nos deixa mais ansiosos e insatisfeitos. Como psicanalista é preciso ler essa promessa como uma verdadeira armadilha,  é possível escapar dela?

A Ilusão do Prazer Imediato  – A Dopamina e o Prazer Imediato

A dopamina é um químico cerebral ligado ao prazer, mas ela não distingue entre o que é efêmero e o que é verdadeiramente significativo. Freud já mostrava que a busca cega por satisfação pode nos levar ao sofrimento e em uma leitura psuicanálitica não ficaremos presos somente a questões dos fenomenos que aparecem na clínica. Lacan vai além: o desejo não se alimenta de respostas fáceis, mas justamente da falta. Quando tentamos “preencher” esse vazio com estímulos rápidos, ele só aumenta em última instância.

O Preço nas Satisfações Rápidas

Quantas vezes nós já nos pegamos exaustos depois de horas nas redes sociais, ou arrependido de uma compra por impulso? Essa é tipo a “ressaca” da dopamina: o vazio que segue o prazer passageiro. Na psicanálise, aprendemos também que a angústia muitas vezes sinaliza algo muito importante a ser escutado – um conflito inconsciente que merece atenção e não uma nova distração.

Saídas e Caminhos

A saída não é reprimir o prazer, mas ressignificá-lo. Lacan nos ensina que o desejo exige paciência e certa coragem para se enfrentar a incerteza. Em vez de buscar atalhos, a psicanálise propõe um trabalho lento, porém transformador. Não se trata de “felicidade rápida”, mas de encontrar um sentido que persista mesmo quando essa tal de dopamina se vai. Se você se reconhece nesse ciclo, talvez seja hora de olhar para ele de outro modo. A psicanálise oferece um espaço para isso, um lugar para se ver além dos estímulos superficiais.

Como Lidar com Esse Ciclo?

  1. Observe sem julgar
    O que você repete sem perceber?
    Em vez de simplesmente “reconhecer padrões”, proponha um exercício de estranhamento: Note o momentos em que o impulso parece mais forte que você, permita-se observar. O que vem antes? O que surge depois? Há um vazio que tenta ser preenchido?
  2. Plano ou sintoma?
    Cuidado com as metas que silenciam o desejo
    Aqui, você pode problematizar a própria ideia de “plano”: Estabelecer metas pode ser útil, mas também pode ser uma fuga. Mais sabotamos qualquer plano do que criamos para cumpri-lo para que ignoremos o desejo. Que perguntas sua ansiedade tampa?
  3. A paciência como ato revolucionário
    Em vez de focar em “conquistas”, vincule à noção de temporalidade do inconsciente: A psicanálise trabalha com um tempo que não é o do relógio. O que parece ‘demora’ pode ser o ritmo necessário para que algo novo emerja – diferente da urgência dopaminérgica seu tempo singular dialoga com o seu desejo.
  4. A ajuda profissional como espaço para o enigma
    O analista não oferece respostas, mas abre perguntas
     Reformule o convite para destacar a ética lacaniana: Na análise, não buscamos ‘caminhos mais saudáveis’, mas sim a verdade do seu próprio desejo – mesmo que ela desestabilize. O sintoma que incomoda pode ser a única saída que você encontrou até agora. E se ele estivesse tentando lhe dizer algo? Escute-o

Se esses paradoxos ressoam em você, a análise pode ser um lugar para sustentá-los. Entre em contato para uma primeira conversa – não como compromisso, mas como gesto de curiosidade sobre o que se repete em vida