Um paralelo entre o funcionamento do motor Wankel e os nós borromeanos

Aqui proponho um paralelo entre o funcionamento do motor Wankel  e os nós borromeanos, exercício que se torna possível especialmente se considerarmos os aspectos da relação entre movimento, estrutura e interdependência.

Os nós borromeanos na psicanálise de Jacques Lacan, foi um recurso no final de seu ensino, o nó borromeano com seus três anéis entrelaçados de modo que, se um for cortado, todos se soltam, que representa a estrutura do sujeito, articulando três registros fundamentais:  Real (o impossível de simbolizar),Simbólico (a linguagem e a lei) e o Imaginário (as identificações e imagens). A interdependência desses três registros é essencial: se um falha, o sujeito “desamarra”, os demais aneis desfazem.

Já o motor Wankel em sua “Tríade” em movimento, o motor Wankel tem um rotor triangular que gira dentro de uma câmara oval, realizando três fases simultâneas (admissão, combustão, escapamento) em setores diferentes, mas interdependentes: os três lóbulos do rotor correspondem aos três tempos do ciclo (embora o motor complete o equivalente a 4 tempos de forma contínua). A sincronia entre rotação, vedação e combustão é crucial: se uma falha acontecer, todo o sistema colapsa.

Existem possíveis paralelos assim que apresentamos aqui o motor e os nós, primeiramente pelos 3 elementos interligados em ambos. No nó borromeano: Real, Simbólico, Imaginário e em Wankel: Rotação, Vedação, Combustão (ou os três lóbulos do rotor).  Em ambos, a falha de um elemento desfaz o sistema.

Vendo a partir do escopo continuidade vs. descontinuidade,  o motor Wankel aparentemente não tem pausas, assim como o inconsciente que não para de trabalhar. O nó borromeano é uma topologia sem hierarquia como o rotor de Wankel não tem pistões “superiores” ou “inferiores”.

Lacan via o nó como uma metáfora do sujeito (sem centro fixo). Já o Wankel não tem curso linear (como pistões), mas um movimento contínuo e circular, similar à noção de gozo (um excesso que “gira” continuamente a esmo).

Vale ressaltar as limitações dessa analogia, o motor Wankel é um sistema físico com causas e efeitos mensuráveis, enquanto o nó borromeano é uma abstração teórica e nesse paralelismo seria possível falar sobre a falta de um ponto central (o rotor não tem eixo fixo, assim como o sujeito não tem um “eu” central) além da compulsão à repetição de Freud e o conceito de gozo pois o ciclo contínuo de combustão de Wankel

e análogo ao conceito de pulsão). O paralelismo não é direto, mas é interessante pensar como uma máquina de movimento (quase) perpétuo como o Wankel pode ecoar a topologia Lacaniana.

Finalizando, podemos pensar que o Real é o que não pára de não se escrever e o Wankel é o que não para de girar.